Desde meados de março, o centro das atenções e das preocupações em São Paulo e no Brasil todo é a pandemia que assola o país. Na Ásia e Europa começou antes. Se alastrou de tal maneira que chegou como uma avalanche nas Américas e demais continentes. Enfim, covid-19 é o fantasma real que assusta o planeta.
No Brasil, assim como nos EUA, a população ainda se depara com o negacionismo de seus chefes de Estado, seja por ignorância absoluta, seja por interesses políticos, ou ainda por razões ocultas. E isso tem dificultado, em ambos os países, uma forma de combate uniforme, com planejamento central. E o resultado é esse: 40% dos infectados pelo covid-19 no Planeta são brasileiros e norte-americanos.
Tanto lá como cá, os governadores de estados tiveram que, muitas vezes, afrontar os presidentes de seus países para impor rumos de atuação capazes de minimizar o avanço da pandemia com suas drásticas consequências. E foi assim em São Paulo.
Governo e parlamentares somaram esforços no sentido de preservar a vida e a saúde da população paulista.
Rapidamente votamos a situação de estado de calamidade pública e foi adotado o isolamento social como medida preventiva ao espraiamento da pandemia em São Paulo. Até aí parecia haver sintonia entre as ações de governo, a atuação dos deputados e os anseios da população diante do necessário combate ao covid-19.
Parecia possível e viável uma atuação harmônica em São Paulo, uma vez que bastavam as dores de cabeça causadas por Bolsonaro. Mas Dória enveredou por um caminho em que, aparentemente, seu ego e sua arrogância falaram mais alto. O diálogo tão importante e necessário em momentos como esse tem sido sistematicamente bloqueado pelo governador.
Na Assembleia Legislativa formamos um Grupo de Trabalho específico sobre o tema, do qual faço parte, que se reúne online às quintas-feiras. Entre as atribuições desta Comissão de deputados de diferentes partidos está o papel de acompanhar e fiscalizar o Estado quanto aos investimentos nessa área específica, bem como a destinação de recursos aos municípios, também com o propósito de combater a pandemia.
Buscamos a transparência, mas o governo tem virado as costas para o trabalho desta Comissão. Surgem, então, as muitas dúvidas sobre os necessários hospitais de campanha. Foram três na Capital, entre eles um já desativado e outro que não resistiu a uma chuva. E nada de atender ao clamor da população pela implantação destas unidades na periferia paulistana. E os milhões destinados aos municípios? Ninguém sabe com base em que critérios foram definidos X ou Y milhões de reais para esta ou aquela cidade.
Além desta Comissão, concentramos esforços, na Assembleia Legislativa, no sentido de sistematizar os diversos Projetos de Lei voltados para o tema covid-19.
Encaminhamos, então, uma proposta ampla dando conta de questões como mobilidade, acesso a medicamento, amparo e apoio social aos necessitados, medidas preventivas, suspensão de pagamento de dívidas e, inclusive, a moradia.
Dória, no mais puro espírito Bolsodoria, vetou alguns pontos do conjunto de medidas encaminhadas. Não concordou, por exemplo, com a suspensão do pagamento de mensalidades de prestação de imóveis financiados pela CDHU enquanto perdurar a situação de pandemia. Esta proposta é de minha autoria. Sei bem o quanto assombra o trabalhador ou trabalhadora e sua família o risco de perder sua moradia. E o governador não teve essa sensibilidade.
Infelizmente, quem paga por esse tipo de conduta é a população que não tem a segurança de um plano de ação de combate à pandemia definido por um planejamento adequado, com começo, meio e fim. O que se tem em São Paulo são experimentos pontuais. A forma atabalhoada como foi anunciada a flexibilização do isolamento social é triste exemplo nesse sentido. Ficou evidente um governo fraco, dúbio, que se dobra a pressões e deixa de lado suas responsabilidades com a vida e a saúde do povo paulista.
Não por acaso, no mês de junho, com esse “vai e volta” de flexibiliza “assim ou assado” o número de mortes e contaminações aumentou expressivamente. Dória não teve coragem de decretar o fechamento total, que chamam de lockdown.
Provavelmente pressionado pelo poder econômico recuou no seu dever de preservar vidas e passou a anunciar um suposto plano de abertura do comércio por regiões do Estado.
Coisa patética, que resultou em descontentamento generalizado de prefeitos. Nem poderia ser diferente, pois não havia nenhuma definição de critérios técnicos para essa medida. O governador não foi capaz, sequer, de abrir diálogo com os prefeitos ou consórcio de prefeituras por regiões para definir planejamento conjunto.
Em São Paulo estamos assistindo o pandemônio da pandemia, também na questão da mobilidade. O transporte coletivo, que deveria receber atenção máxima nessa situação, ficou à própria sorte, como se nada tivesse acontecendo. Os “magos” do governo do Estado reduziram frotas de ônibus, diminuíram circulação de trens e metrô, quando deviam fazer exatamente o contrário para segurança de quem tinha que sair para trabalhar. Outro desastre.
Todos sabemos que a pandemia começou pelas regiões nobres da Capital e foi se estendendo para a periferia, grande São Paulo, interior e litoral paulista. Situação previsível, tendo em vista a realidade em outros estados e países. Nosso governo não foi capaz de compreender e perceber isso e se adiantar nos planos de contenção. Ou seja, o Estado sempre chega atrasado. Em vez de conter o incêndio, joga copos d’água em labaredas de fogo.
Com isso, São Paulo já beira a casa dos 20 mil mortos, com mais de 300 mil contaminados. O governo anuncia um suposto platô, ou seja, a estabilização desses números. Mas todos os indicadores apontam para a continuidade do crescimento, pelo menos até o final de agosto. Mais dois meses de angústia e sofrimento, enquanto Dória fala em retomada plena do funcionamento do comércio e indústria, das escolas, retorno de torneios esportivos; enfim a falsa normalidade rumo a “paz dos cemitérios”.
Dr Jorge do Carmo, deputado estadual (PT-SP), é advogado, vice presidente do PT Paulista e militante dos movimentos de moradia