Auditoria encontrou falhas graves como pilastras de viadutos tortas, infiltração, fissuras em túneis e revestimentos trincados.
Obras do Rodoanel Norte estão mais caras, atrasadas, há indícios de corrupção e de problemas estruturais graves
São Paulo – Uma auditoria feita pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) no Rodoanel Norte encontrou 1.291 falhas nas obras, das quais 59 colocarão em risco a vida de motoristas que trafegarem pelo local, se não forem corrigidas. Dentre os problemas considerados graves estão pilastras de viadutos tortas, infiltração e fissuras em túneis, aterros e pavimentação de encostas com erosão e rupturas e blocos de pavimento trincados. As obras estão paralisadas desde junho de 2018 por suspeitas de superfaturamento. Este trecho começou a ser construído em 2013 e devia ter sido entregue em 2016, no governo de Geraldo Alckmin (PSDB).
A auditoria foi contratada pelo governo de João Doria (PSDB), para embasar a nova licitação das obras do trecho norte, prevista para setembro deste ano.
Além das 59 falhas consideradas graves, que precisam ser resolvidas antes do início da operação, o Rodoanel Norte apresenta 152 falhas médias, problemas que podem afetar as estruturas no curto ou médio prazos, como juntas de movimentação sem manutenção e aparelhos de apoio instalados de forma incorreta. Segundo o IPT, esses problemas são decorrentes da falta de manutenção após a construção dos trechos.
A conclusão das obras do trecho Norte do Rodoanel vai consumir o dobro do dinheiro estimado pelo governo Alckmin, há seis anos. Já foram gastos pouco mais de R$ 10 bilhões na obra, cujo orçamento inicial era de R$ 5,6 bilhões. Agora, o governo Doria prevê que serão necessários mais R$ 1,7 bilhão para finalização do último trecho, totalizando R$ 11,7 bilhões.
Faltando terminar cerca de 15% do Rodoanel Norte, o governo paulista teve de rescindir os contratos dos seis lotes de obras. Três foram anulados ainda no ano passado, no governo de Márcio França (PSB), e três já no governo Doria. As investigações da Operação Pedra no Caminho, desdobramento da Operação Lava Jato, apontam que houve fraude, superfaturamento e sobrepreço nos contratos de remoção de pedras e terraplanagem. A estimativa inicial é de desvios de R$ 625 milhões.
Novas construtoras devem assumir as obras em cada lote. No entanto, as empresas Mendes Júnior, Isolux, Corsan, OAS, Acciona, Construcap e Copasa, responsáveis pelos contratos anteriores, foram à Justiça contra o governo de São Paulo, exigindo cerca de R$ 900 milhões, alegando que não receberam pelos serviços já executados.
Em janeiro do ano passado, a concessionária EcoRodovias venceu o leilão para a administração e manutenção do trecho Norte, por um período de 30 anos, pelo valor de R$ 883 milhões, embora ainda não haja previsão definitiva do início da operação – o que pode implicar em novos processos judiciais.
O primeiro trecho do Rodoanel Mário Covas – oeste – começou a ser construído em 1998 e foi entregue em 2002. O trecho sul foi concluído em 2010 e o leste, em 2014. A rodovia, que circunda a capital paulista terá, no total, 177 quilômetros de extensão.
A primeira previsão de entrega do Rodoanel Norte foi em 2016, tendo as obras sido iniciadas em 2013. Os novos contratos devem ter prazos de execução de 18 a 24 meses, levando a previsão de entrega para 2022, ano em que Doria pretende concorrer à presidência da República.
O Rodoanel Norte vai ligar a rodovia Fernão Dias à Avenida Inajar de Souza. Terá 44 quilômetros de extensão, com sete pares de túneis, 44 pontes e 63 viadutos, além de 3,5 quilômetros de uma interligação com o aeroporto de Guarulhos. O governo paulista estima que 40% dos caminhões que atualmente acessam a capital paulista pela rodovia Dutra passarão a rodar pelo trecho.
Em nota, a Secretaria de Estado dos Transportes informou que não haverá riscos para os motoristas. “O Rodoanel Trecho Norte ainda está em obra. Ou seja, não há motoristas utilizando esse trecho. O IPT foi contatado por esta gestão para uma análise minuciosa sobre a obra visando a retomada dos trabalhos. O relatório do IPT será anexado em sua totalidade no novo edital de licitação da obra, garantindo que todos os trabalhos necessários sejam feitos para que o Rodoanel seja entregue com toda a segurança aos usuários e dentro dos novos prazos que serão estabelecidos na futura licitação. Portanto, não há riscos para os futuros motoristas uma vez que as empresas vencedoras dos lotes do trecho norte serão obrigadas pelo edital a realizar todos os trabalhos necessários apontados no laudo do IPT”.